domingo, 4 de janeiro de 2009

a flutuar



E se existissem dois sóis?

Será que o problema do "contra-luz" estaria resolvido? Será que os robots que vagueiam por todo o lado olhavam para o céu mais vezes? Será que os nossos olhos iam ficar com a íris suprimida? Tal a força da luz dos dias. Será que nesses lugares onde mora a escuridão iria um dos dois sóis brilhar? Desejaríamos nós ofegantemente pela noite? Pelo compasso terno do negro, da lua pálida, da penumbra? Seria o fim dos tempos ou o início de um novo tempo?

A claridade revela, revela-nos...ergue aos outros, que têm consciência de nós, a derradeira sombra... Ficamos nus. A alegria, a devassa, as olheiras negras de noites espectantes, a calma, o egoísmo, a loucura, o ódio, a avareza, a tranquilidade, pudesse eu escrever tudo o que vejo e sinto só com um sol.

Páro a vertigem, regresso à noite. É ela que me conforta. Respiro o doce orvalhar que caí na noite, vejo gente e mais gente - os loucos da noite.

Admiro-os e tento adivinhar cada vida, cada traço de estória....serão eles lembrados um dia, ou simplesmente esquecidos?

Que faço aqui agora?...ah, sonho com dois sóis....Regresso onde fiquei...

na noite?

Delfina Rocha

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